AEI entrevista Emilio Takagi, diretor técnico da Penetron Internacional, sobre inovação e futuro da impermeabilização
- assessoria02
- há 7 dias
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A AEI (Associação de Engenharia de Impermeabilização) entrevistou o engenheiro civil Emilio Minoru Takagi, diretor técnico da Penetron Internacional. Com mais de 30 anos de carreira, ele é uma das maiores referências no setor, atuando no desenvolvimento de tecnologias cristalinas para aditivos e sistemas de proteção do concreto, sempre com foco em inovação e sustentabilidade.
Na conversa, o especialista destacou seu trabalho voltado à proteção do concreto em ambientes agressivos, corrosão biogênica e tecnologias de autorregeneração. Também compartilhou detalhes sobre sua participação como painelista no Concrete Show 2025, evento que conta com apoio institucional da AEI e é um dos maiores da construção civil na América Latina.
Ao final, Emilio Takagi deixou um recado aos profissionais da impermeabilização, reforçando a importância do trabalho desenvolvido pela AEI para promover e valorizar o setor.
Confira a entrevista!
1. Recentemente, você foi aprovado para o doutorado no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). O que essa nova fase da sua jornada acadêmica representa para a sua trajetória profissional? E de que forma sua pesquisa poderá contribuir para o avanço da impermeabilização?
Ser aprovado no doutorado do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) é um marco importante na minha trajetória. Minha pesquisa foca na proteção de estruturas de concreto contra corrosão por ácidos biogênicos, usando tecnologias cristalinas, aditivos antimicrobianos e revestimentos avançados.
Esse trabalho se enquadra nos estágios iniciais da escala Technology Readiness Levels (TRLs), desenvolvida pela NASA — que vai de 1 a 9. Os níveis 1 a 4 concentram-se na academia, onde as tecnologias são concebidas, estudadas e validadas em escala laboratorial. Já os níveis 5 a 9 pertencem ao mercado, quando a tecnologia precisa ser demonstrada e aplicada em escala real.
O momento mais crítico é a passagem do TRL 4 para o TRL 5 — conhecido como “vale da morte da inovação”, pois exige vencer barreiras técnicas e financeiras para levar a solução do laboratório ao campo. Minha meta é justamente superar esse ponto, entregando conhecimento aplicado que contribua para aumentar a durabilidade de estruturas e o avanço técnico da impermeabilização.
2. No dia 20 de agosto, você estará presente no Concrete Show como um dos painelistas do congresso “Construindo Conhecimento”, discutindo o tema do concreto inteligente. Qual a relevância de eventos como esse para o setor da construção civil? E que avanços mais promissores você destacaria em termos de eficiência, durabilidade e sustentabilidade?
O Concrete Show é um ambiente privilegiado para acelerar a transição de ideias (TRLs baixos) para soluções de mercado (TRLs altos). Ao reunir indústria, academia e usuários finais, eventos como esse ajudam a reduzir o chamado ‘vale da morte da inovação’, oferecendo visibilidade e validação em ambientes reais.
O conceito de concreto inteligente engloba autocicatrização, resistência ampliada a agentes agressivos, monitoramento contínuo e menor impacto ambiental — avanços que, se testados e validados em escala real, aumentam a eficiência, a durabilidade e a sustentabilidade das construções.
Nesse contexto, temos orgulho de participar do projeto europeu SMARTinCS (Self-healing Multifunctional Advanced Repair Technologies in Cementitious Systems), coordenado pela Professora Nele De Belie, da Universidade de Ghent, na Bélgica. Esse projeto reúne especialistas de vários países para desenvolver e validar soluções de reparo e proteção de concreto com propriedades multifuncionais, combinando inovação científica e aplicação prática.
3. A AEI tem se dedicado ao longo dos anos a promover conhecimento e valorizar as boas práticas de impermeabilização. Na sua visão, qual é a importância desse papel para o desenvolvimento técnico da engenharia civil no Brasil?
A AEI desempenha um papel essencial como catalisadora da inovação no setor, ajudando tecnologias a transpor o ‘vale da morte’. Por meio de mídias digitais, como o ImperNews, e diversas iniciativas promovidas pela entidade, a AEI vem criando laços sólidos entre a academia, fabricantes, aplicadores e consumidores do mercado de impermeabilização — e, pode-se dizer, até da durabilidade das estruturas em geral.
Ao promover conhecimento, disseminar boas práticas e criar conexões entre todos os atores, a AEI contribui para que soluções em estágios TRL 3 ou TRL 4 evoluam até TRL 7, 8 ou 9 — ou seja, até se tornarem padrões consolidados no mercado. Essa ponte entre a pesquisa e a aplicação prática é vital para elevar o padrão técnico da engenharia civil brasileira.
4. Com sua ampla experiência, tanto no Brasil quanto no exterior, como avalia o estágio atual do mercado brasileiro de impermeabilização? Estamos evoluindo na adoção de tecnologias de alto desempenho? E como você enxerga o impacto de soluções inovadoras, como as tecnologias cristalinas e o concreto autocicatrizante, nesse cenário?
O mercado brasileiro tem avançado na adoção de tecnologias de alto desempenho, mas ainda enfrenta desafios na transição da fase de pesquisa para a aplicação em larga escala — justamente o vale da morte da inovação. Tecnologias cristalinas e concretos autocicatrizantes são exemplos de soluções que já atingiram TRL 9 em alguns países e estão em aceleração no Brasil. Quando bem especificadas e aplicadas, essas soluções atuam desde a matriz do concreto, proporcionando proteção contínua e redução significativa dos custos de manutenção.
Nesse cenário, merecem destaque duas iniciativas técnicas relevantes:
O Comitê Técnico CT-501 sobre Estanqueidade de Estruturas de Concreto, uma iniciativa conjunta do IBRACON e do IBI, amplia o conceito tradicional de estanquiedade, tratando-o como uma gestão de riscos. Mais do que impedir a infiltração de água líquida, considera também a penetração de vapor d'água e gases — um enfoque crucial, pois mesmo estruturas impermeáveis à água podem sofrer danos se a umidade atingir áreas sensíveis, como aquelas que abrigam equipamentos elétricos ou eletrônicos.
O Comitê Técnico CT-802 de Manutenção e Reabilitação de Estruturas de Concreto, do IBRACON e da Alconpat Brasil, vem desenvolvendo diretrizes para produtos e sistemas voltados ao reparo e à proteção de estruturas de concreto. No Capítulo 7, dedicado à recuperação estrutural por meio da tecnologia de injeção, tenho a honra de atuar como coordenador, junto com especialistas brasileiros de referência nessa área. O objetivo é consolidar práticas técnicas avançadas e seguras, fortalecendo a adoção dessa tecnologia no país com base em conhecimento normativo e experiência de campo.
5. O 15º Simper (Seminário de Impermeabilização), promovido pela AEI, será realizado em novembro e reunirá especialistas de todo o país para discutir os principais desafios e soluções relacionados à impermeabilização. Com base na sua experiência, de que forma eventos técnicos e temáticos como esse podem contribuir para a geração de conhecimento, a troca de experiências e o direcionamento estratégico do setor nos próximos anos?
O 15º Simper é um ponto de encontro estratégico para o setor de impermeabilização e durabilidade das estruturas. Reunir especialistas de todo o país permite que tecnologias ainda em estágios intermediários na escala TRLs — especialmente entre TRL 4 e TRL 6 — encontrem oportunidades de validação prática e parcerias para superar o vale da morte da inovação.
É nesse tipo de evento que resultados de pesquisa ganham visibilidade, soluções são discutidas de forma crítica e casos reais são apresentados, criando um ambiente de aprendizado coletivo. Além disso, o Simper ajuda a alinhar expectativas entre academia, fabricantes, aplicadores, projetistas e usuários finais, direcionando o setor para inovações viáveis, normatizadas e de alto impacto.
6. Com mais de 30 anos de atuação na engenharia civil, conciliando pesquisa, inovação e desenvolvimento de mercado, quais aprendizados mais marcaram sua trajetória até aqui? E que mensagem gostaria de deixar aos profissionais que se inspiram na sua trajetória?
Ao longo de mais de 30 anos conciliando pesquisa, inovação e desenvolvimento de mercado, aprendi que tecnologia só se transforma em valor real quando é compreendida, validada e bem aplicada. Vi muitas boas ideias ficarem pelo caminho no vale da morte da inovação por falta de integração entre pesquisa e mercado, e também vi soluções revolucionarem o setor quando esse elo foi bem construído.
Como Diretor Técnico da Penetron Internacional, tenho viajado para os 107 países onde a empresa atua e, respeitando as culturas locais, observo como a tecnologia da impermeabilização vem inovando, adaptando-se a diferentes realidades e necessidades. Essa experiência global reforça minha convicção de que o intercâmbio de conhecimento é essencial para acelerar a adoção de soluções eficazes e sustentáveis.
Mesmo em um patamar estável da carreira, me propus ao desafio de conquistar o título de doutor pelo ITA — e recentemente fui aprovado por unanimidade no meu Exame de Qualificação, etapa decisiva dessa jornada acadêmica.
"Minha mensagem aos profissionais que se inspiram na minha trajetória é: cultivem a curiosidade técnica, mantenham a ética como base, invistam no aprendizado contínuo e não tenham receio de colaborar com diferentes atores da cadeia construtiva. É dessa convergência que nascem as soluções mais duráveis, sustentáveis e transformadoras para a engenharia civil". finalizou Emilio Minoru Takagi.
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